terça-feira, 21 de agosto de 2007

Como o índio Kaingang vê a doença.

Os índios Kaingang tem a visão prática e curativa das tribos indígenas profundamente relacionadas com a maneira de o índio perceber a doença e suas causas. Tanto as medidas curativas como as preventivas estão carregadas de elementos mágicos e ritualísticos que refletem seu modo de ver o mundo e com ele se relacionar.
Para muitas tribos, a causa das moléstias não está no mundo físico, mas sim no sobrenatural. Os índios Kaingang, por exemplo, acreditam que a pessoa pode ficar doente por diversos motivos, todos eles ligados a forças extradiordinárias.

Segundo pesquisas, essas podem ser:

a) Perda temporária da alma ou espírito: um ser sobrenatural ou "nggiyúdn" pode tomar a alma e mantê-la apriosionada; conforme a entidade que realizou o furto, variam as possibilidades de recuperação, bem como a natureza do sofrimento provocado. O espírito de um morto, quando deseja fazer mal a alguém, rouba-lhe a alma para inflingir sofrimento ao vivo. Esse espírito vingativo é considerado como pertencente a um grupo inimigo, talvez da própria tribo, mas de outra família.
Os índios relatam que há casos de um espírito furtar a alma de alguém pelo motivo contrário ou seja, por amor ou saudade, por remorso de tê-lo desamparado na terra, por nostalgia do mundo dos vivos. Nesse caso, o espírito faz parte do grupo de amigos: pai, marido, parente. Sendo assim, o parente mais próximo do falecido, viúvo ou viúva deverá ficar no mato, retirando todas as lembranças do outro, muitas vezes ficando abraçado a uma árvore que pode ser o Jaborandi, pois é considerado mágico pelos Kaingang.
E assim o índio(a) fica algum tempo afastado do grupo, pois durante os dias que seguem o velório, o(a) viúvo(a) não pode olhar nos olhos de ninguém da aldeia, pois os índios consideram que o mesmo está ainda muito ligado ao morto e poderá, com isso, trazer mau agouro. Obtivemos a irformação de que é usual, também em decorrência desta tentativa de desvincular-se ao morto, o parente próximo cortar suas unhas (pois usava as mãos para preparar e servir o alimento à pessoa antes do falecimento), cortar o cabelo ou as sobrancelhas do parente vivo e enterrá-las junto ao corpo do morto. Passar folha de Criciúma na gengiva até sangrar também faz parte do ritual para quebrar o vínculo marido/mulher após a morte de um deles.
Em casos extremos pode haver necessidade de o(a) viúvo(a) chegar a ter que mudar o nome indígena para que o morto não o(a) encontre. Este procedimento só poderá ser realizado pelo kuiã após ter constatado que realmente a presença do espírito do morto está perturbando seriamente a vida ou a saúde do parente vivo.
Os Kaingang afirmam acreditar que a criança só firme seu espírito no corpo após os 7 anos. Por isso, quando uma mãe leva a criança ao mato, antes de voltar para casa precisa chamar a criança pelo nome indígena para que o espírito da mesma volte ao corpo e não seja possuído por outro espírito que esteja vagueando pela mata. Se ela não o fizer, a criança poderá ficar seriamente doente e, nesses casos, o Kuiã teria que ir ao local onde estavam (mãe e filho) e chamar até resgatar o espírito da criança e assim salvá-la;

b) Ataques de monstros sobrenaturais que introduzem pedras ou objetos em forma de vermes no corpo da vítima, provocando-lhe diferentes moléstias;

c) Vingança de espírito do mundo natural, quando um índio tem a visão de um desses seres e conta o que viu para os outros índios. Para os índios Kaingang, os espíritos toleram que alguém se recuse a visitá-los e mesmo que se negue a adotar seus filhos, mas não perdoam quem conta a sua visão.
Por isso, normalmente quem tem visões de sonhos são os Kuiãs ou pessoas que já manifestam sinais que podem indicar a possibilidade de vir a seu um Kuiã.


Fonte de pesquisa: Elaine da Silveira - Medicina indígena: saúde e rituais - 1997 Jul/Dez nº 11 -
pág 109/110


Bjos 1000
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