Quando os deuses resolveram povoar este mundo, conta Platão, moldaram todos os animais com fogo e com argila e encarregaram dois titãs, "Prometeu e Epimeteu", de equipa-los com o necessário para a vida. Epimeteu pôs mão à obra: deu corpulência a uns, agilidade a outros; uns ele armou de garras e chifres, outros deixou desarmados, dotando-os, porém, de asas ou de pernas velozes para poder fugir; de uns fez predadores, de outros presas, mas deu a estes a benção de proles mais numerosas, ara que nenhuma das espécies viesse a ser extinta. Quando acabou, no entanto, viu que tinha esquecido o homem - nu, desarmado e indefeso. Para que ele sobrevivesse. Prometeu teve de roubar dos deuses o fogo e a misteriosa arte de domá-lo.
Há dois mil anos, Plínio, em sus História Natural, já descreve essa nudez originária. Desprovido de escamas, concha, pena ou pele espessa, o homem é o único animal que se veste com os despojos de outros. Quando chega a este mundo, só sabe chorar e gemer, e precisa ficar enrolado em paninhos, tolhido, por vários meses, ao passo que um pinto já anda solto no terreiro no dia em que rompa a casca. Por enquanto apenas chora, este animalzinho de quatro patas. Mas quando saberá caminhar como homem? Falar como homem? uando terá força para mastigar o que come? Os outros animais já nascem com o instinto de sua própria espécie: uns correm, outros voam, outros ainda nadam, mas o homem não sabe coisa alguma que não tenha de parender - nem falar, nem andar, nem levar alimento à boca, pois o único dom natural que recebeu foi o de chorar - talvez pelo simples fato de ter nasciso.
No entanto, é esta ínfima criatura que vai comandar as outas criaturas, porque ela é diferente. De todos os seres, o homem é o único que conhece o luto e o riso, que procura o prazer de todas as formas e por todas as partes do corpo, que sofre com a ambição da riqueza e com a brevidade da vida, que se preocupa com a morte e até mesmo com o que vai acontecer quando ele não estiver mais aqui. Mas, acima de tudo, é o único que se conforma com o impiedoso ciclo animal em que os mais fracos são aniquilados. Paradoxalmente - ou não -, a espécie humana começou a tornar-se a mais forte de todas somente quando, num gesto solidário, este simples mamífero resolveu atrasar o seu passo na savana para ajudar os retardatários, quando começou a sentir que devia carregar os feridos, proteger as crias abandonadas e dividir o alimento com os que não podiam caçar - quando, em suma assumiu que a fraqueza do outro era sua fraqueza também.
Fonte de pesquisa: Cláudio Moreno, professor, escritor e redator do Jornal Zero Hora (Março 2005) - E-mail: cmoreno@terra.com.br
Esta matéria foi minha primeira aula de pré-história dia 01.03.07 (ULBRA/CANOAS).
Bjos 1000
Bárbara Prado - Porto Alegre/RS